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Guia Foca GNU/Linux
Capítulo 20 - Introdução ao uso de criptografia para transmissão/armazenamento de dados


Este capítulo explica como dados transmitidos em uma rede pode ser capturados, isto ajudará a entender a vulnerabilidade de serviços comuns que não utilizam criptografia para a transmissão de dados e alternativas/programas equivalentes que fazem transmissão de dados usando métodos criptográficos para deixar a mensagem somente legível para origem e destino.


20.1 Introdução

Quando enviamos um tráfego de nossa máquina para outra (e-mails, mensagens de ICQ, navegação, ftp, etc) os dados passam por várias máquinas até atingir o seu destino (isto se chama roteamento). Se algum cracker instalou algum capturador de pacotes (sniffer) em alguma das máquinas de nossa rota os dados poderão facilmente visualizados.

Crackers normalmente configuram estes programas a procura de campos como "passwd" e outras expressões que sejam úteis para acesso ao seu sistema ou espionagem. Quem gosta de ter sua privacidade violada? A internet definitivamente é uma rede insegura e nem todos os administradores de servidores são responsáveis o suficiente para fazer uma configuração restrita para evitar acesso de pessoas mal intencionadas.

Este capítulo mostra (na prática) como um sniffer funciona para captura de pacotes, isto ajudará a entender como serviços que enviam seus dados em forma texto plano são vulneráveis a isto e alternativas para transmissão segura de dados. Este capítulo tem a intenção de mostrar alternativas seguras de proteção dos dados que trafegam em sua rede e a segurança de suas instalações.


20.2 Sniffer

O sniffer (farejador) é um programa que monitoram/registram a passagem de dados entre as interfaces de rede instaladas no computador. Os dados coletados por sniffers são usados para obtenção de detalhes úteis para solução de problemas em rede (quando usado com boas intenções pelo administrador do sistema) ou para ataques ao sistema (quando usado pelo cracker para obter nomes/senhas e outros detalhes úteis para espionagem).

Os sniffers mais conhecidos para sistemas Linux são tcpdump, ethereal. Este último apresenta uma interface gráfica GTK para fácil operação em máquinas que executam o servidor X. Para explicar o funcionamento de um sniffer, vou assumir o ethereal instalado (ele não requer modificações no sistema além de ser fácil de executar e fazer pesquisa de expressões específicas). Instale o ethereal com o comando apt-get install ethereal.

Agora vamos a prática para entender como o sniffer funciona e a importância da criptografia de dados (só assim mesmo, não da para entender falando muita teoria :-):

  • Conecte-se a Internet

  • Execute o ethereal como usuário root.

  • Pressione CTRL+K para abrir a tela de captura de pacotes. Em Interface selecione sua interface de internet. Nesta tela clique no botão "FILE" e coloque um nome de arquivo que a captura será gravada. Opcionalmente marque a opção "Update list of packets in real time" para monitorar a passagem de pacotes em tempo real.

  • Clique em "OK". A captura de pacotes será iniciada

  • Conecte-se a um site ftp qualquer (digamos ftp.debian.org.br). Entre com o usuário "anonymous" e senha "[email protected]"

  • Finalize a captura de pacotes clicando no botão "STOP"

  • Agora vá em "File"/"Open" e abra o arquivo capturado. Ele está no formato usado pelo sniffer tcpdump como padrão. Procure no campo "INFO" a linha "Request: USER anonymous", logo abaixo você verá a senha digitada pelo usuário. Entendeu agora a importância da criptografia na transferência segura de dados? não só o nome/senha pode ser capturado mas toda a seções feitas pelo usuário. Scanners como o tcpdump e ethereal são flexivelmente configuráveis para procurar por dados específicos nas conexões e salva-los para posterior recuperação.


    20.2.1 Detectando a presença de sniffers

    Uma característica comum de sniffers é mudar o modo de operação das interfaces monitoradas para o "Modo Promíscuo" com o objetivo de analisar todo o tráfego que passa por aquele segmento de rede (mesmo não sendo destinados para aquela máquina).

    A entrada/saída de interfaces no modo promíscuo é monitorada nos logs do sistema:

         Sep 25 16:53:37 myserver kernel: device eth0 left promiscuous mode
         Sep 25 16:53:56 myserver kernel: device eth0 entered promiscuous mode
         Sep 25 16:54:18 myserver kernel: device eth0 left promiscuous mode
         Sep 25 16:54:31 myserver kernel: device eth0 entered promiscuous mode
    

    O logcheck monitora estas atividades e classificam esta mensagem como prioridade "Violação" (dependendo da configuração dos seus filtros em /etc/logcheck. Veja logcheck, Seção 6.4.1 para detalhes sobre este programa.

    OBS: A utilização de switches dificulta a captura de pacotes em redes distribuídas porque somente os dados destinados a máquina onde o sniffer está instalado poderão ser capturados.


    20.3 Alternativas seguras a serviços sem criptografia


    20.3.1 http

    O uso de alternativas seguras é indispensável em servidores que servem páginas de comércio eletrônico, banco de dados, sistemas bancários, administração via web ou que tenham dados que oferecem risco, se capturados.

    Existem duas alternativas: instalar o servidor Apache-ssl (pacote apache-ssl ou adicionar o módulo mod-ssl na instalação padrão do Apache. Esta segunda é a preferida por ser mais rápida e simples de se administrar, por usar o servidor Web Apache padrão e sua configuração. Veja Uso de criptografia SSL, Seção 12.13 para detalhes de como configurar um servidor Web para transmissão de dados criptografados.


    20.3.2 Transmissão segura de e-mails

    A codificação padrão usada para o envio de mensagens em muitos clientes de e-mail é o MIME/base64. Isto não oferece muita segurança porque os dados podem ser facilmente descriptografados se pegos por sniffers (veja Sniffer, Seção 20.2) ou abertos por administradores não confiáveis no diretório de spool do servidor.

    Existem uma diversidade de servidores SMTP, POP, IMAP do Linux que já implementam o protocolo de autenticação SSL/TLS, exigindo login/senha para o envio/recepção de mensagens, cabeçalhos de autenticação (aumentando um pouco mais a confiança sobre quem enviou a mensagem). Em especial, a autenticação é útil quando desejamos abrir nossas contas de e-mail para a Internet, por algum motivo, e não queremos que outros façam relay sem nossa autorização.

    Outra forma de garantir a segurança da mensagem/arquivos através do correio eletrônico é usando o PGP (veja Usando pgp (gpg)para criptografia de arquivos, Seção 20.5) em conjunto com um MUA (Mail User Agent - cliente de e-mails) que suporte o envio de mensagens criptografadas/assinadas usando PGP. A vantagem do GPG em cima da autenticação SSL é que você tem garantidas da autenticidade da mensagem e você pode verificar sua integridade. Os dois programas mais usados em sistemas Unix são o mutt e o sylpheed. O mutt é um MUA para modo texto e o sylpheed para modo gráfico. Ambos são muito flexíveis, permitem uma grande variedade de configurações, personalizações, possuem agenda de endereços e gerenciam diversas contas de e-mails em um só programa.

    Para encriptar/assinar uma mensagem no mutt escreva/responda seu e-mail normalmente, quando aparecer a tela onde você tecla "y" para enviar a mensagem, tecle "p" e selecione uma das opções para criptografar/assinar uma mensagem.

    Para fazer a mesma operação no sylpheed, escreva/responda seu e-mail normalmente e clique no menu "Mensagem" e marque "assinar", "criptografar" ou ambos. A chave pública deverá estar disponível para tal operação (veja Adicionando chaves públicas ao seu chaveiro pessoal, Seção 20.5.8 e Extraindo sua chave pública do chaveiro, Seção 20.5.7).


    20.3.3 Servidor pop3

    A alternativa mais segura é a utilização do protocolo IMAP com suporte a ssl. Nem todos os clientes de e-mail suportam este protocolo.


    20.3.4 Transferência de arquivos

    Ao invés do ftp, use o scp ou o sftp para transferência segura de arquivos. Veja scp, Seção 15.2.2 e sftp, Seção 15.2.3. Uma outra alternativa é a configuração de uma VPN entre redes para garantir não só a transferência de arquivos, mas uma seção em cima de um tunel seguro entre duas pontas.


    20.3.5 login remoto

    Ao invés do uso do rlogin, telnet e rsh utilize o ssh (veja ssh, Seção 15.2.1) ou o telnet com suporte a ssl (veja Instalação, Seção 14.1.6).


    20.3.6 Bate papo via IRC

    O programa SILC (Secure Internet Live Conference) realiza a criptografia de dados durante o bate papo entre diversos usuários conectados via rede.


    20.3.7 Transmissão de mensagens via ICQ

    O protocolo ICQ trabalha de forma plana para transmissão de suas mensagens, inclusive as senhas. Clientes anteriores ainda usavam o UDP (até a versão 7) para envio de mensagens, piorando um pouco mais a situação e deixando o cliente mais vulnerável a falsificações de pacotes. Outro ponto fraco é que se alguma coisa acontecer com os pacotes UDP, eles serão simplesmente descartados perdendo a mensagem.

    Ao invés do ICQ, você poderá usar algum cliente do protocolo Jabber (como o gaim, gaber ou gossip) ou o LICQ mais atual com suporte a ssl compilado. O problema do LICQ com ssh, é que as duas pontas deverão ter este suporte compilado e funcionando.


    20.4 Sistemas de arquivos criptográfico

    Esta é uma forma excelente para armazenamento seguro de seus dados, pois estarão criptografados e serão somente acessados após fornecer uma senha que só você conhece. O sistema usado é a montagem de um arquivo comum como um sistema de arquivos via loopback você pode escolher um nome de arquivo discreto para dificultar sua localização (use a imaginação) e poderá ser armazenado até mesmo em partições não-ext2. Siga estes passos para criar seu sistema de arquivos criptografado (baseado no Loopback-Encripted-Filesystem):

    Suporte no kernel

    Baixe o patch criptográfico de ftp://ftp.kernel.org/pub/linux/kernel/crypto de acordo com a sua versão do kernel e aplique os patches. Este suporte não pode ser incluído nativamente no kernel devido a restrições de uso e importação de criptografia impostas pelos EUA e outros países, com este suporte embutido o kernel não poderia ser distribuído livremente.

    Se o patch para seu kernel não existir, pegue a versão anterior mais próxima (se não existir o patch para seu kernel 2.2.19, pegue a versão 2.2.18 do patch internacional). Isto certamente funcionará.

    Opções de compilação do kernel

    Na seção Crypto Support ative Crypto Ciphers e ative o suporte aos ciphers Twofish, blowfish, cast128, e serpent (estes são distribuídos livremente e sem restrições). Todos possuem cifragem de 128 bits, exceto o blowfish que é 64 bits. Também é recomendado ativar os módulos em Digest algorithms.

    Na seção Block Devices: ative o suporte a loopback (necessário para montar arquivos como dispositivos de bloco) e Use relative block numbers as basis for transfer functions (isto permite que um backup do sistema de arquivos criptografado seja restaurado corretamente em outros blocos ao invés dos originais). Ative também o suporte para General encription support e o suporte aos cyphers cast128 e twofish.

    Não ative as opções de criptografia para a seção "Networking" (a não ser que saiba o que está fazendo). Recompile e instale seu kernel .

    Crie um arquivo usando os números aleatórios de /dev/urandom:

    dd if=/dev/urandom of=/pub/swap-fs bs=1M count=15

    Será criado um arquivo chamado swap-fs (um arquivo de troca tem características que ajudam a esconder um sistema de arquivos criptografado que é o tamanho e não poderá ser montado pelo usuário comum, evitando desconfianças).

    O processo de criação deste arquivo é lento, em média de 1MB a cada 10 segundos em um Pentium MMX.

    Monte o arquivo como um sistema de arquivos loop

    losetup -e twofish /dev/loop0 /pub/swap-fs

    O algoritmo de criptografia é selecionado pela opção -e. Algoritmos recomendados são o serpent e twofish (ambos possuem cifragem de 128 bits), sendo o serpent o preferido. O gerenciamento do sistema loop encriptado é feito através do módulo loop_gen.

    Quando é executado pela primeira vez, será lhe pedida uma senha que será usada para montagens futuras de seu sistema de arquivos. Digite-a com atenção pois ela será lhe pedida apenas uma vez. Para desativar o sistema de arquivos loop, execute o comando:

    losetup -d /dev/loop0

    OBS: Se errou a senha será necessário desmontar, apagar o arquivo criado e repetir o procedimento.

    Crie um sistema de arquivos ext2 para armazenamento de dados

    mkfs -t ext2 /dev/loop0 ou mkfs.ext2 /dev/loop0

    Monte o sistema de arquivos

    Crie um diretório que será usado para montagem do seu sistema de arquivos, se preferir monta-lo dentro de seu diretório pessoal para armazenar seus arquivos, crie um diretório com as permissões "0700".

    mount /pub/swap-fs /pub/criptofs -t ext2 -o loop

    Agora poderá gravar seus arquivos dentro deste diretório normalmente como qualquer outro. O comando df -hT listará a partição loop como uma partição do tipo ext2 comum.

    Desmontando/Protegendo os dados

    Após usar o sistema de arquivos criptográfico, desmonte-o e desative o dispositivo loopback:

         umount /pub/criptofs
         losetup -d /dev/loop0
    
    Remontando o sistema de arquivos criptografado

    Execute novamente os comandos:

         losetup -e twofish /dev/loop0 /pub/swap-fs
         mount /pub/swap-fs /pub/criptofs -t ext2 -o loop
    

    Será pedida a senha que escolheu e seu sistema de arquivos será montado em /pub/swap-fs.

    Com este sistema, seus dados estarão protegidos mesmo do usuário root.


    20.5 Usando pgp (gpg)para criptografia de arquivos

    O gpg (GNU pgp, versão livre da ferramenta pgp) permite encriptar dados, assim somente o destinatário terá acesso aos dados, adicionalmente poderá verificar se a origem dos dados é confiável (através da assinatura de arquivos). O sistema PGP se baseia no conceito de chave pública e privada: Sua chave pública é distribuída para as pessoas que deseja trocar dados/mensagens e a chave privada fica em sua máquina (ela não pode ser distribuída). As chaves públicas e privadas são armazenadas nos arquivos pubring.gpg e secring.gpg respectivamente, dentro do subdiretório ~/.gnupg. Veja Criando um par de chaves pública/privada, Seção 20.5.2 para criar este par de chaves.

    Os dados que recebe de outra pessoa são criptografados usando sua chave pública e somente você (de posse da chave privada) poderá desencriptar os dados. Quando assina um arquivo usando o pgp, ele faz isto usando sua chave privada, o destinatário de posse da chave pública poderá então confirmar que a origem dos dados é confiável.

    O gpg vem largamente sendo usado para transmissão segura de dados via internet. Muitos programas de e-mails como o mutt e sylpheed incluem o suporte a pgp embutido para envio de mensagens assinadas/encriptadas (MIME não tem uma codificação segura e não garante que a mensagem vem de quem realmente diz ser). Um servidor de e-mail no Linux configurado como as mesmas configurações/endereços do provedor da vítima pode enganar com sucesso um usuário passando-se por outro.


    20.5.1 Instalando o PGP

    apt-get install gnupg

    Após instalar o gnupg, execute o comando gpg para criar o diretório ~/.gnupg que armazenará as chaves pública e privada.


    20.5.2 Criando um par de chaves pública/privada

    Para gerar um par de chaves pessoais use o comando gpg --gen-key. Ele executará os seguintes passos:

  • Chave criptográfica - Selecione DSA e ELGamal a não ser que tenha necessidades específicas.

  • Tamanho da chave - 1024 bits traz uma boa combinação de proteção/velocidade.

  • Validade da chave - 0 a chave não expira. Um número positivo tem o valor de dias, que pode ser seguido das letras w (semanas), m (meses) ou y (anos). Por exemplo, "7m", "2y", "60".

    Após a validade, a chave será considerada inválida.

  • Nome de usuário - Nome para identificar a chave

  • E-mail - E-mail do dono da chave

  • comentário - Uma descrição sobre a chave do usuário.

  • Confirmação - Tecle "O" para confirmar os dados ou uma das outras letras para modificar os dados de sua chave.

  • Digite a FraseSenha - Senha que irá identificá-lo(a) como proprietário da chave privada. É chamada de FraseSenha pois pode conter espaços e não há limite de caracteres. Para alterá-la posteriormente, siga as instruções em Mudando sua FraseSenha, Seção 20.5.11.

  • Confirme e aguarde a geração da chave pública/privada.


  • 20.5.3 Encriptando dados

    Use o comando gpg -e arquivo faz a encriptação de dados:

         gpg -e arquivo.txt
    

    Será pedida a identificação de usuário, digite o nome que usou para criar a chave. O arquivo criado será encriptado usando a chave pública do usuário (~/.gnupg/pubring.gpg) e terá a extensão .gpg adicionada (arquivo.txt.gpg). Além de criptografado, este arquivo é compactado (recomendável para grande quantidade de textos). A opção -a é usada para criar um arquivo criptografado com saída ASCII 7 bits:

         gpg -e -a arquivo.txt
    

    O arquivo gerado terá a extensão .asc acrescentada (arquivo.txt.asc) e não será compactado. A opção -a é muito usada para o envio de e-mails.

    Para criptografar o arquivo para ser enviado a outro usuário, você deverá ter a chave pública do usuário cadastrado no seu chaveiro (veja Adicionando chaves públicas ao seu chaveiro pessoal, Seção 20.5.8) e especificar a opção -r seguida do nome/e-mail/ID da chave pública:

         gpg -r kov -e arquivo.txt
    

    O exemplo acima utiliza a chave pública de kov para encriptar o arquivo arquivo.txt (somente ele poderá decriptar a mensagem usando sua chave privada).

    OBS: É recomendável especificar o nome de arquivo sempre como último argumento.


    20.5.4 Decriptando dados com o gpg

    Agora vamos fazer a operação reversa da acima, a opção -d é usada para decriptar os dados usando a chave privada:

         gpg -d arquivo.txt.asc >arquivo.txt
         gpg -d arquivo.txt.gpg >arquivo.txt
    

    Descriptografa os arquivos arquivo.txt.asc e arquivo.txt.gpg recuperando seu conteúdo original. A sua "FraseSenha" será pedida para descriptografar os dados usando a chave privada (~/.gnupg/secring.gpg).


    20.5.5 Assinando arquivos

    Assinar um arquivo é garantir que você é a pessoa que realmente enviou aquele arquivo. Use a opção -s para assinar arquivos usando sua chave privada:

         gpg -s arquivo.txt
    

    A "FraseSenha" será pedida para assinar os dados usando sua chave privada. Será gerado um arquivo arquivo.txt.gpg (assinado e compactado). Adicionalmente a opção --clearsign poderá ser usada para fazer uma assinatura em um texto plano, este é um recurso muito usado por programas de e-mails com suporte ao gpg:

         gpg -s --clearsign arquivo.txt
    

    Será criado um arquivo chamado arquivo.txt.asc contendo o arquivo assinado e sem compactação.


    20.5.6 Checando assinaturas

    A checagem de assinatura consiste em verificar que quem nos enviou o arquivo é realmente quem diz ser e se os dados foram de alguma forma alterados. Você deverá ter a chave pública do usuário no seu chaveiro para fazer esta checagem (veja Adicionando chaves públicas ao seu chaveiro pessoal, Seção 20.5.8). Para verificar os dados assinados acima usamos a opção --verify:

         gpg --verify arquivo.txt.asc
    

    Se a saída for "Assinatura Correta", significa que a origem do arquivo é segura e que ele não foi de qualquer forma modificado.

         gpg --verify arquivo.txt.gpg
    

    Se a saída for "Assinatura INCORRETA" significa que ou o usuário que enviou o arquivo não confere ou o arquivo enviado foi de alguma forma modificado.


    20.5.7 Extraindo sua chave pública do chaveiro

    Sua chave pública deve ser distribuída a outros usuários para que possam enviar dados criptografados ou checar a autenticidade de seus arquivos. Para exportar sua chave pública em um arquivo que será distribuído a outras pessoas ou servidores de chaves na Internet, use a opção --export:

         gpg --export -a usuario >chave-pub.txt
    

    Ao invés do nome do usuário, poderá ser usado seu e-mail, ID da chave, etc. A opção -a permite que os dados sejam gerados usando bits ASCII 7.


    20.5.8 Adicionando chaves públicas ao seu chaveiro pessoal

    Isto é necessário para o envio de dados criptografados e checagem de assinatura do usuário, use a opção --import:

         gpg --import chave-pub-usuario.txt
    

    Assumindo que o arquivo chave-pub-usuario.txt contém a chave pública do usuário criada em Extraindo sua chave pública do chaveiro, Seção 20.5.7. O gpg detecta chaves públicas dentro de textos e faz a extração corretamente. Minha chave pública pode ser encontrada em Chave Pública PGP, Seção 21.8 ou http://pgp.ai.mit.edu.


    20.5.9 Listando chaves de seu chaveiro

    Use o comando gpg --list-keys para listar as chaves pública do seu chaveiro. O comando gpg --list-secret-keys lista suas chaves privadas.


    20.5.10 Apagando chaves de seu chaveiro

    Quando uma chave pública é modificada ou por qualquer outro motivo deseja retira-la do seu chaveiro público, utilize a opção --delete-key:

         gpg --delete-key usuario
    

    Pode ser especificado o nome de usuário, e-mail IDchave ou qualquer outro detalhe que confira com a chave pública do usuário. Será pedida a confirmação para excluir a chave pública.

    OBS: A chave privada pode ser excluída com a opção --delete-secret-key. Utilize-a com o máximo de atenção para excluir chaves secretas que não utiliza (caso use mais de uma), a exclusão acidental de sua chave secreta significa é como perder a chave de um cofre de banco: você não poderá descriptografar os arquivos enviados a você e não poderá enviar arquivos assinados.

    Mesmo assim se isto acontecer acidentalmente, você poderá recuperar o último backup da chave privada em ~/.gnupg/secring.gpg~.


    20.5.11 Mudando sua FraseSenha

    Execute o comando gpg --edit-key usuário, quando o programa entrar em modo de comandos, digite passwd. Será lhe pedida a "Frase Senha" atual e a nova "Frase Senha". Digite "save" para sair e salvar as alterações ou "quit" para sair e abandonar o que foi feito.

    O gpg --edit-key permite gerenciar diversos aspectos de suas chaves é interessante explora-lo digitando "?" para exibir todas as opções disponíveis.


    20.5.12 Assinando uma chave digital

    A assinatura de chaves é um meio de criar laços de confiança entre usuários PGP. Assinar uma chave de alguém é algo sério, você deve ter noção do que isto significa e das conseqüências que isto pode trazer antes de sair assinando chaves de qualquer um.

    O próprio teste para desenvolvedor da distribuição Debian requer como primeiro passo a identificação do candidato, caso sua chave pgp seja assinada por algum desenvolvedor desta distribuição, imediatamente o teste de identificação é completado. A partir disso você deve ter uma noção básica do que isto significa. Para assinar uma chave siga os seguintes passos:

  • Importe a chave pública do usuário (veja Adicionando chaves públicas ao seu chaveiro pessoal, Seção 20.5.8).

  • Execute o comando gpg --edit-key usuario (onde usuario é o nome do usuário/e-mail/IDchave da chave pública importada).

  • Digite list, e selecione a chave pública (pub) do usuário com o comando uid [numero_chave]. Para assinar todas as chaves públicas do usuário, não selecione qualquer chave com o comando uid.

  • Para assinar a chave pública do usuário digite sign, será perguntado se deseja realmente assinar a chave do usuário e então pedida a "FraseSenha" de sua chave privada.

  • Digite "list", repare que existe um campo chamado trust: n/q no lado direito. O primeiro parâmetro do "trust" indica o valor de confiança do dono e o segundo (após a /) o valor de confiança calculado automaticamente na chave. As seguintes possuem o seguinte significado:

    O valor de confiança da chave pode ser modificado com o comando trust e selecionando uma das opções de confiança. Os valores de confiança para a chave pública pessoal é -/u (não é necessário calcular a confiança/indiscutivelmente confiável).


  • 20.5.13 Listando assinaturas digitais

    Execute o comando gpg --list-sigs para listas todas as assinaturas existentes no seu chaveiro. Opcionalmente pode ser especificado um parâmetro para fazer referência a assinatura de um usuário:gpg --list-sigs usuario.

    O comando gpg --check-sigs adicionalmente faz a checagem de assinaturas.


    20.5.14 Recomendações para a assinatura de chaves gpg

    Este texto foi divulgado por uma pessoa que pediu para permanecer anônima na lista [email protected] explicando os procedimentos de segurança para a troca de chaves públicas individuais e em grupo de usuários. Ele é um pouco longo mas a pessoa é especializada no assunto, e seu foco é a segurança na troca de chaves e o que isto significa. Após consulta ao autor do texto, o texto foi reproduzido na íntegra, mantendo os padrões de formatação da mensagem.

         Trocando assinaturas de chaves digitais
         
         Direitos de republicação cedidos ao domínio público, contanto que o texto
         seja reproduzido em sua íntegra, sem modificações de quaisquer espécie, e
         incluindo o título e nome do autor.
         
         
         1. Assinaturas digitais
         2. Chaves digitais e a teia de confiança
         3. Trocando assinaturas de chaves digitais com um grupo de pessoas
         
         
         1. Assinaturas digitais
         
         Uma assinatura digital é um número de tamanho razoável (costuma ter de 128 a
         160 bits) que representa um bloco bem maior de informação, como um e-mail.
         
         Pense numa assinatura como se ela fosse uma versão super-comprimida de um
         texto.  Se você muda alguma coisa (por menor que seja) no texto que uma
         assinatura "assina", essa assinatura se torna inválida: ela não mais
         representa aquele texto.
         
         Existe uma relação direta entre uma assinatura e informação que ela assina.
         Se uma das duas for modificada, elas passam a não mais "combinar" uma com a
         a outra. Um programa de computador pode detectar isso, e avisar que a
         assinatura é "inválida".
         
         Os algoritmos mais usados para criar e verificar assinaturas digitais são o
         SHA-1, RIPEM160 e MD5.  O MD5 não é considerado tão bom quanto os outros
         dois.
         
         Assinaturas digitais também funcionam com arquivos "binários", ou seja:
         imagens, som, planilhas de cálculo... e chaves digitais.
         
         
         2. Chaves digitais e a teia de confiança
         
         Chaves digitais são fáceis de falsificar, você só precisa criar uma chave
         nova no nome de sicrano, por um endereço de e-mail novinho em folha daqueles
         que você consegue nesses webmail da vida, e pronto.  Agora é só espalhar
         essa chave por aí que os bestas vão usá-la pensando que é de sicrano.
         
         A menos que os "bestas" não sejam tão bestas assim, tenham lido o manual do
         seu software de criptografia, e saibam usar assinaturas e a teia de
         confiança para verificar se a tal chave é de sicrano mesmo.
         
         Programas de criptografia (os bons, tipo PGP e GNUpg) usam um sistema de
         assinaturas nas chaves digitais para detectar e impedir esse tipo de
         problema:  Ao usuário é dado o poder de "assinar" uma chave digital, dizendo
         "sim, eu tenho certeza que essa chave é de fulano, e que o e-mail de fulano é
         esse que está na chave".
         
         Note bem as palavras "certeza", e "e-mail".  Ao assinar uma chave digital,
         você está empenhando sua palavra de honra que o _nome_ do dono de verdade
         daquela chave é o nome _que está na chave_, e que o endereço de e-mail
         daquela chave é da pessoa (o "nome") que também está na chave.
         
         Se todo mundo fizer isso direitinho (ou seja, não sair assinando a chave de
         qualquer um, só porque a outra pessoa pediu por e-mail, ou numa sala de
         chat), cria-se a chamada teia de confiança.
         
         Numa teia de confiança, você confia na palavra de honra dos outros para
         tentar verificar se uma chave digital é legítima, ou se é uma "pega-bobo".
         
         Suponha que Marcelo tenha assinado a chave de Cláudia, e que Roberto, que
         conhece Marcelo pessoalmente e assinou a chave de Marcelo, queira falar com
         Cláudia.  
         
         Roberto sabe que Marcelo leu o manual do programa de criptografia, e que ele
         não é irresponsável.  Assim, ele pode confiar na palavra de honra de Marcelo
         que aquela chave digital da Cláudia é da Cláudia mesmo, e usar a chave pra
         combinar um encontro com Cláudia.
         
         Por outro lado, Roberto não conhece Cláudia (ainda), e não sabe que tipo de
         pessoa ela é. Assim, rapaz prevenido, ele não confia que Cláudia seja uma
         pessoa responsável que verifica direitinho antes de assinar chaves.
         
         Note que Roberto só confiou na assinatura de Marcelo porque, como ele já
         tinha assinado a chave de Marcelo, ele sabe que foi Marcelo mesmo quem
         assinou a chave de Cláudia.  
         
         Enrolado? Sim, é um pouco complicado, mas desenhe num papel as flechinhas de
         quem confia em quem, que você entende rapidinho como funciona.
         
         O uso da assinatura feita por alguém cuja chave você assinou, para validar
         a chave digital de um terceiro, é um exemplo de uma pequena teia de
         confiança.
         
         
         3. Trocando assinaturas de chaves digitais com um grupo de pessoas
         
         Lembre-se: ao assinar uma chave digital, você está empenhando sua palavra de
         honra que toda a informação que você assinou naquela chave é verdadeira até
         onde você pode verificar, _e_ que você tentou verificar direitinho.
         
         Pense nisso como um juramento: "Eu juro, em nome da minha reputação
         profissional e pessoal, que o nome e endereços de e-mail nessa chave são
         realmente verdadeiros até onde posso verificar, e que fiz uma tentativa real
         e razoável de verificar essa informação."
         
         Sim, é sério desse jeito mesmo. Você pode ficar muito "queimado" em certos
         círculos se você assinar uma chave falsa, pensando que é verdadeira:  a sua
         assinatura mal-verificada pode vir a prejudicar outros que confiaram em
         você.
         
         Bom, já que o assunto é sério, como juntar um grupo de pessoas numa sala, e
         trocar assinaturas de chaves entre si?  Particularmente se são pessoas que
         você nunca viu antes? Siga o protocolo abaixo, passo a passo, e sem pular ou
         violar nenhum dos passos.
         
         
           1 -  Reúna todos em uma sala, ou outro local não tumultuado, pressa e
                bagunça são inimigas da segurança.
           
           2 -  Cada um dos presentes deve, então, ir de um em um e:
           
                2.1 -  Apresentar-se, mostrando _calmamente_ documentação original
                       (nada de fotocópia) comprovando sua identidade.  RG, CPF,
                       passaporte, certidão de nascimento ou casamento, carteira de
                       motorista, cartão de crédito são todos bons exemplos. Só o RG
                       sozinho não é -- tem muito RG falsificado por aí -- mas o RG
                       junto com o cartão de banco já seria suficiente.  Se nenhum
                       documento tiver foto, também não é o bastante.
                       
                       * Se alguém pedir o documento na mão, para verificar
                       direitinho, não leve pro lado pessoal. Deixe a pessoa
                       verificar até estar satisfeita (mas não descuide do
                       documento). Isso só significa que ela leva muito a sério a
                       responsabilidade de assinar chaves.
         
                2.2 -  Entregar um papel com as informações da chave: Nome
                       (QUE OBRIGATORIAMENTE PRECISA SER O MESMO NOME CONSTANTE NOS
                       DOCUMENTOS APRESENTADOS EM 2.1), e-mail, número da chave
                       (keyID), e fingerprint da chave (assinatura digital da chave)
         
                       RECIPIENTE DO PAPEL: Se você achar que os documentos que te
                       apresentaram não são prova suficiente, talvez porque o nome
                       não bate com o da chave, ou porque uma foto nos documentos não
                       está parecida com quem mostrou os documentos, marque
                       discretamente no papel, porque você NÃO deve assinar essa
                       chave.   Se achar que o outro vai engrossar, não diga para ele
                       que não vai assinar a chave dele.
         
           3 -  Pronto. Podem ir embora, porque o resto dos passos deve ser feito com
                calma, em casa.  Lembre-se que você não vai estar efetuando nenhum
                julgamento moral a respeito de quem você assinar a chave. Você só irá
                afirmar que a chave de sicrano é realmente aquela, e mais nada.
         
           4 -  Para cada uma das chaves que você marcou no papel que "posso assinar":
           
                4.1 -  Peça para o seu programa de criptografia mostrar a chave e sua
                       assinatura (fingerprint).
                       
                       SE: O nome no papel for exatamente igual ao nome na chave
                       (user ID/UID da chave). E: A assinatura no papel for
                       exatamente igual à assinatura na chave (fingerprint).  ENTÃO:
                       Vá para o passo 4.3.
         
                4.2 -  As informações não bateram, por isso você não deve assinar a
                       chave.  Se quiser, envie um e-mail avisando que não poderá
                       assinar a chave. Não aceite tentativas de retificação por
                       e-mail ou telefone. Um outro encontro face-à-face, refazendo
                       todos os passos 2.1 e 2.2 é o único jeito de retificar
                       o problema.
         
                4.3 -  As informações bateram, o que garante que o *nome* está
                       correto. Agora é preciso ter certeza do endereço de e-mail.
                       Para isso, envie uma e-mail *CIFRADA* pela chave que você está
                       testando, para o endereço de e-mail constante na chave.  Nessa
                       e-mail, coloque uma palavra secreta qualquer e peça para o
                       destinatário te responder dizendo qual a palavra secreta que
                       você escreveu. Use uma palavra diferente para cada chave que
                       estiver testando, e anote no papel daquela chave qual palavra
                       você usou.
         
                4.4 -  Se você receber a resposta contendo a palavra secreta correta,
                       você pode assinar a chave. Caso contrário, não assine a chave -- 
                       o endereço de e-mail pode ser falso.
         
         
         Comandos do gpg (GNUpg) correspondentes a cada passo:
           2.2 -       gpg --fingerprint <seu nome ou 0xSuaKEYID>
                       (retorna as informações que devem estar no papel a ser
                       entregue no passo 2.2)
         
           4.1 -       gpg --receive-key <0xKEYID>
                       (procura a chave especificada nos keyservers)
                       gpg --sign-key <0xKEYID>
                       (assina uma chave)
         
                       Assume-se que você sabe cifrar e decifrar mensagens. Caso
                       não saiba, ainda não é hora de querer sair assinando chaves.
    

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    Guia Foca GNU/Linux

    Versão 6.43 - domingo, 05 de setembro de 2010

    Gleydson Mazioli da Silva [email protected]